ENTREVISTA AO PRESIDENTE FERNANDO ROCHA

FERNANDO ROCHA - A ENTREVISTA

EXCLUSIVO "PORTIMONENSE 1914"

Realizada no passado dia 19 de Julho, após o jogo de apresentação aos Associados. A nova temporada, os apoios da Câmara, o "caso Rafa" e muito mais.

Portimonense 1914: Para iniciar a nossa entrevista gostaria que fizesse um balanço do seu trabalho enquanto Presidente

Presidente: Não se pode dizer que o passado é passado. Muitas dificuldades, toda gente sabe, mas vamos continuar a lutar para levar o barco a bom porto. Estou convencido que dentro de mais 2 ou 3 anos o clube fica numa situação estável e pronto para tudo. Até aí, temos que continuar a trabalhar. Vai atrasar um pouco aquilo que eu pensava em termos de tempo porque a situação económica que o país vive também se faz sentir no clube e os apoios são limitados. Mas estou convencido que dentro de mais 2 ou 3 anos o Portimonense estará pronto para pensar noutros voos.

Portimonense 1914: é verdade que o clube continua muito dependente dos apoios da Câmara Municipal de Portimão?

Presidente: Eu não tenho vergonha nem medo de dizer que “sim senhor”. O clube, como qualquer outro, tem orçamentos feitos de receitas e despesas. Há despesas que por muito que se corte, vão sempre existir: temos que pagar os ordenados aos jogadores, aos médicos, aos massagistas, aos funcionários… e por muito pouco que se pague há um mínimo que tem sempre de existir. O clube obtém receitas dos sócios (muito limitadas), tem as receitas normais de uma equipa de futebol que está presente na Liga Vitalis. Depois tem donativos e receitas da Câmara. Nem temos de ter vergonha de pedir à Câmara, nem a Câmara deverá ter vergonha ou receio de dizer que nos apoia porque o Portimonense traz um benefício à cidade, não só na sua promoção, como também na estima da população e no trabalho que desenvolve…não digo na formação de jogadores de futebol… mas na formação desportiva e na ocupação de tempos livres.

Portimonense 1914: qual a dimensão dessa participação desportiva dos jovens?

Presidente: Posso dizer que temos perto de 600 miúdos a praticar desporto no Portimonense e este ano se tudo correr normalmente, se calhar vamos ter perto dos 800. E no ano seguinte, quem sabe, talvez 1000, desde que haja mais condições de treino. Portanto, se olhar para os 600 miúdos actualmente a praticar desporto, quanto é que isso vale numa autarquia? É por isso que eu digo que não devemos ter vergonha. Quando o dinheiro é gerido com honestidade, com os pés bem assentes no chão, por pessoas que estão aqui para servir o clube (posso dizer que nem eu, nem nenhum dos directores meteu 1 litro de gasolina por conta do clube) estamos a fazer uma obrigação social. Eu também sou pai. Por acaso os meus filhos já não estão na idade desta prática desportiva mas ficarei muito grato se, para os meus netos, existir alguém a desenvolver um projecto destes, para que eles tenham ocupação dos tempos livres.

Portimonense 1914: Existirão condições para no futuro o Portimonense não depender tanto da autarquia? Considera que esse apoio não é nenhuma vergonha mas um pouco mais de independência talvez nos fizesse bem. Haverá possibilidade de termos um clube totalmente independente?

Presidente: O problema do Portimonense é actualmente o problema de qualquer clube. Hoje, independentes, são os clubes da Liga Sagres. Se eu conseguir pôr o clube na Liga Sagres, concerteza que passo a ser independente porque as verbas que esses clubes recebem já dão para pagar os ordenados mínimos obrigatórios numa Liga. A partir daí, entra a capacidade de gestão para construir uma equipa, ou mais cara, ou mais barata. Na Liga Vitalis, pelo contrário, não há nenhum clube que seja viável, é impossível. Não há receitas (existem mas são mínimas). Se eu apostasse forte numa subida de divisão, tal como vários clubes já tentaram, iria hipotecar ainda mais o futuro do clube… e ninguém sobe só porque tem mais dinheiro. O que temos de fazer é continuar a “limpar” o clube, esperar que o mundo também melhore e procurar outras soluções. A Liga também vai ter que acordar e fazer o que se faz em qualquer parte do mundo: ajudar os clubes da Liga Vitalis com o mínimo de que eles necessitam para a sobrevivência. E hoje em dia é impensável, com plantel de 22 jogadores e treinadores, fazer uma época com menos de 700 mil euros. A partir daí, quem tiver receitas terá equipas melhores, ou quem quiser hipotecar o seu clube gasta mais. Enquanto isto não fôr assim, não há solução.

Portimonense 1914: Vê benefícios na proposta que pretende dividir a Liga Vitalis em duas zonas, cada uma com 10 equipas?

Presidente: É uma discussão grande. Não sei, sinceramente… continuo um bocado dividido e fui um dos primeiros a falar dessa situação. Se analisarmos bem, perderemos o estatuto de campeonato nacional para passarmos a ser duas divisões. Neste caso, o próprio Portimonense em nada é beneficiado porque as primeiras equipas que vai encontrar estão "lá em cima". Tem que ser tudo muito bem pensado. Por outro lado poderá ter vantagens se a televisão se interessar.

Portimonense 1914: Em relação ao famoso caso Rafa… porque saiu este jogador do Portimonense? Falou-se de uma cláusula de 5 milhões. O que nos pode revelar sobre este caso?

Presidente: O caso Rafa um dia vai ter que ser contado. Dava uma telenovela! Eu continuo a estar quase calado porque acredito que o Rafa se apresente no Porto, mais dia menos dia. Se o Rafa um dia decidir jogar à bola e voltar ao Porto, o Portimonense faz um excelente negócio. Foram-lhe criadas condições no Portimonense que ele não quis (ele fugiu-nos daqui duas ou três vezes) depois conseguimos uma transferência única para o Porto. Estamos à espera que ele se apresente.

Portimonense 1914: Em relação à nova temporada, o que poderemos esperar deste plantel? Jogadores de divisões mais baixas não significam necessariamente pior qualidade.

Presidente: Até pelo contrário. Jogámos com o Olhanense [1º jogo treino] “taco a taco”, jogámos com Braga também de igual para igual… e hoje defrontámos o Sunderland. Perdemos mas não temos de ter vergonha pois poderíamos perfeitamente ter empatado ou até ganho. Não há jogadores de 1ª, nem de 2ª, nem de 3ª. Há jogadores que têm qualidade, querem jogar, têm vontade. Estes jogadores querem andar para a frente.

Portimonense 1914: Conseguiu reduzir o orçamento em 40%, como várias vezes foi referido? Certamente que teve necessidade de renegociar com jogadores que já cá estavam… eles aceitaram?

Presidente: O orçamento baixou. A nossa ideia era baixar 40%... não conseguimos. Tivemos que fazer algumas contratações que não estávamos à espera. O Portimonense tem hoje [Nota do redactor - 19 de Julho] apenas 2 jogadores emprestados (Monteiro e Balú). Temos uma política diferente. O treinador escolheu-os, são jogadores à imagem do Lito Vidigal e estamos muito contentes. Só esperamos que se venha a confirmar aquilo que nos tem sido dado a ver nesta fase…e que se faça uma época muito mais tranquila.

Portimonense 1914: para terminar gostaria que revelasse se se vai recandidatar para mais um mandato.

Presidente: As eleições vão ter que ser marcadas para Outubro. Tem sido um trabalho muito exausto para mim. Eu tenho a minha vida profissional que também não está fácil… temos que andar muito mais atentos e dedicar muito mais tempo às nossas empresas. Mas também entendo que deixar um projecto já iniciado é muito complicado e acho que este clube, e a cidade, não merecem que se faça isso. Digo desde o primeiro dia: o clube não é meu. Apenas posso fazer uma gestão dentro de toda uma experiência que eu já tenho de vida… uma gestão cuidada… e tentar o melhor para o clube! Se eu conseguir ter uma equipa que aceite este desafio, se continuar a ter os apoios que nos prometeram, em princípio estarei disponível, se não aparecer mais ninguém. Se aparecer alguém que queira ocupar este lugar, desde que seja uma pessoa credível e que venha por bem, ficaremos muito contentes. Vamos ver. Faltam alguns meses, o importante é começar a nova época e continuar a resolver os problemas do Portimonense que são muito, muito, muito graves. Os sócios não se apercebem cá fora dos problemas que se vivem todos os dias. A parte financeira está longe de ficar resolvida. Vamos ver se conseguimos levar o “barco a bom porto”.

Portimonense 1914: Torna-se ingrato esse trabalho? Sente-se incompreendido?

Presidente: A vida é assim. Quando se vem para estes lugares já sabe como as coisas são. Quando se ganha somos os melhores. Quando se perde somos os piores. Quando eu tomei conta do clube, se eu pensasse só com a cabeça, o mais correcto seria deixar o clube descer de divisão para fazer como há uns anos. As pessoas esquecem-se que o Portimonense já esteve na divisão de baixo. Foi assim que a antiga direcção conseguiu “limpar” o clube para chegar onde chegou. Aí há uma palavra que queria deixar: nunca esqueço o excelente trabalho que o Presidente Alberto Estêvão fez, tendo andado 9 anos para resolver o problema financeiro do clube… que era metade do problema que nós encontrámos. Por isso, já que estamos nesta guerra, vamos até ao fim e concerteza que a vamos vencer!

Esperamos ter contribuído para o esclarecimento dos adeptos em algumas das matérias que suscitam dúvidas. Tentámos introduzir interactividade lançando o repto a todos os Associados para que lançassem questões que gostariam de ver respondidas mas ninguém o fez. Em alternativa procurámos, então, levar as questões mais gerais e abrangentes, pelo nosso próprio critério.

A moderação de comentários para este post mantém-se. Apenas serão aceites comentários identificados e construtivos, mesmo que possuam opinião antagónica, o que só beneficiará a troca de opiniões.

A equipa do "Portimonense 1914"