terça-feira, março 22, 2011

PROMOÇÃO DO FUTEBOL EM PORTUGAL

Um assunto que me tem preocupado é a maneira como o futebol é promovido em Portugal. Ou melhor, a maneira como não é promovido.

Como bom adepto de futebol, e apesar de graças à internet, gastar cada vez menos tempo a ver televisão ou a ler jornais, gosto de me manter informado sobre o que se passa e de ler as opiniões dos comentaristas.

Deparo-me com uma crescente falta de gosto em tudo o que é suposto ser informação desportiva. Na TV, os programas resumem-se a ter três marretas dos três clubes grandes, que se degladiam, insultam e acima de tudo, exacerbam ao máximo a sua clubite, que não lhe permite ver para além da cor que defendem.

O programa de Domingo na TVI, que supostamente é dedicado à Liga principal, é uma coisa completamente aberrante. Este programa dedica 95% do seu tempo aos jogos dos "grandes", e faz resumos de 30 segundos dos jogos dos "pequenos", precisamente o mesmo tempo que dedica aos campeonatos internacionais. Os comentadores e apresentadores, levantam-se das suas cadeiras de esplanada, para ir ao pé de uma televisão, e analisar até à exaustão, se um determinado lance era ou não canto a favor de um dos grandes - as outras equipas não têm direito a análises. O resumo do jogo de maior destaque da jornada, é interrompido ao intervalo, com o resumo de um outro jogo qualquer. O programa é dividido em 3 partes (Jornada, Casos e Forum), mas que no final de contas não combinam em nada com o alinhamento real do programa. O programa é quase sempre apresentado com a jornada dessa semana ainda incompleta - com jogos por realizar. Até na maneira descuidada como se enganam nos nomes dos jogadores, se pode ver uma total falta de profissionalismo. Eu pergunto-me, é este tipo de programas que promove o espectáculo do futebol? Mas quem foi a pessoa que no seu perfeito juízo desenhou um programa com este formato, e pior, quem foi a pessoa que deu o seu aval para isto ir para o ar?

Vou dar outro exemplo aberrante. Rui Santos e o seu programa Tempo Extra, onde um só homem, durante mais de duas horas responde a perguntas feitas por si próprio, dá notas aleatórias a pessoas e coisas, e fala basicamente sobre toda a temática sócio-económica do futebol, tácticas, métodos de treino, etc. Um verdadeiro expert/sabe-tudo! Mas será que, pondo como ridídculo haver a necessidade de um programa com este alinhamento em Portugal, não existiria uma personalidade melhor capacitada para o fazer?

Depois existem os jornais. Há coisas nos jornais que não me conseguem passar ao lado. Desde as avaliações aos jogadores, completamente desfasadas da realidade, à bajulação a certos treinadores, em deterimento de outros, passando pelos artigos de opinião que atacam pessoas, como todos nós, a nível pessoal, e não apenas profissional. As capas são inavariavelmente dedicadas aos mesmos clubes, e os menores nunca têm mérito nas suas vitórias.

Até nas transmissões em directo de partidas de futebol, os comentadores escolhidos, e pagos, variam entre o irritante e o ridículo.

Eu sei que tudo isto funciona numa lógica de mercado, e declaradamente têm um público alvo a atingir e uma meta de vendas de publicidade que lhes permita sustentar-se. Mas mesmo assim, quero acreditar, que em Portugal existirá uma fatia de espectadores, que como eu, gosta de ler e ouvir opiniões isentas, que falem do espetaculo em si como a vertente do futebol que vale realmente a pena falar, sobre estatísticas, sobre táctica, que façam o histórico e lançamento das partidas da jornada, em suma, que promovam o futebol e os campeonatos de Portugal.

A melhor excepção a tudo isto são alguns artigos e análises de Luís Freitas Lobo e o programa Pontapé de Saída, que conta quase sempre com comentadores muito interessantes no seu painel, e onde apesar de também ler ou ouvir coisas com as quais discordo, líricas ou utópicas, ou opiniões demasiado óbvias, sempre se discute o futebol jogado.

17 comentários:

João Raposo disse...

Caro Ruben,

Subscrevo, na prática, todos os teus parágrafos! Tenho a agravante, relativamente a ti, de já ter desistido e de, tal como faço com os telejornais, mudar de canal sempre que vejo um dos iluminados citados a falar do seu Porto, Sporting ou Benfica! É vergonhosa a forma como são tratados 13 dos 16 clubes da 1ª Liga! Contudo, não se resume apenas à televisão! Na passada 6ª feira, por não me ter conseguido desenfiar mais cedo do trabalho, (não) acompanhei o nosso Portimonense pela rádio! No caminho entre Lisboa e Portimão, tive direito, entre Antena 1, TSF, Renascença e todas as outras que fui correndo (inclusivé as Algarvias a partir de certa altura) a 1 minuto de informações ao intervalo, no final das notícias das 21 horas e, provavelmente a mais 1 minutinho no final do jogo, o qual já não ouvi pois dois dos meus colegas que converti ao Portimonense já me tinham ligado a dizer que havíamos ganho! No fim de contas, é duro ser de um clube pequeno! Contudo, é especial, é único e não é comparável a ser de um grande...

Um abraço Portimonense

Anónimo disse...

http://visaodemercado.blogspot.com

Bruno disse...

os mais falados sao os mais devedores no entanto so porque sao os clubes que sao estao nesta liga e sao altamente apoiados pela comunicaçao social.estes 3 "reis" do futebol nacional sao os mais beneficiados tanto em campo como fora deste,no entanto se as coisas nao lhes correr bem,vêm choramingar para os meios de comunicaçao social.ainda tenho curiosidade de saber como seria o nosso campeonato sem os "reis" e se estes descessem para os distritais será que a comunicaçao social continuava a tratar os outros com desigualdade

Anónimo disse...

Eu até consigo ver o lado positivo de toda esta situação. Além do facto de não me "misturar" com o adepto comum (e, por isso, banal e sem valor) do clube "grandioso" que ganha semana sim, semana sim elevando até aos Alpes o ego desse adepto e, ao que parece, aumentando-lhe a felicidade; além desse brio que sinto por ser diferente e não comum nem banal, há o factor de o nosso clube não ser tão exposto e, portanto, ser mais "protegido" quer dos media quer daquele "virus" da fama que parece atingir muitos jogadores, treinadores e dirigentes.

Imaginam os nossos jogadores, por serem capas de jornais e revistas e tema de conversa nos cafés desse país fora, encherem-se de snobismo e vaidades fúteis, auto-considerando-se superstars do mundo do futebol e queimando assim a proximidade existente entre adeptos e jogadores?

Talvez o que separa este episódio da realidade seja a falta de poder económico do nosso Portimonense, mas se assim for, prefiro que continue assim. Caso contrário, teríamos que, à semelhança desses clubes grandes, exigir mais dos nossos atletas, correndo o risco de defraudar com maior frequência as nossas espectativas.

Talvez eu não queira ver o meu clube tão falado nos media... Deixem o circo televisivo para os "grandes" e para as suas "grandes" audiências. Depois, talvez por desconhecimento do adversário (nós), acontecem surpresas como as que aconteceram na Luz, fruto de quem desdenhou previamente.

Anónimo disse...

Não podia concordar mais com este artigo, quando um dos jornais desportivos mais vendidos em Portugal tem um artigo de opinião de uma senhora jurista que de futebol nada percebe e que apenas se limita a insultar tudo e todos inclusive as pessoas do seu próprio clube, está tudo dito.

P. disse...

Parabéns ao comentário anónimo das 11:07. É algo muito próximo do que sinto.

Estou em Lisboa e muito mais facilmente dou 6 horas de viagem e 100 euros para ir ver um jogo do meu Portimonense, que pago 20 euros para ver um dos "grandes" à porta de casa.

No actual futebol-industria, tudo está inflacionado (investimentos e salários). Em consequência, também as receitas têm que aumentar. Divide-se então a jornada em 4 dias, duscute-se o que se passou nos 3 dias seguintes, e andamos neste carrocel sistemático que alimenta o ego de alguns.

Recordo-me com saudades das grandes jornadas nos anos 80, com jogos a terem início às 15 horas, todos em simultâneo. Ouvir um relato de futebol era uma alegria porque nesse período 15/17 horas eram golos atrás de golos, directos com todos os campos, e ao final da noite tudo estava terminado no Domingo Desportivo. Que às vezes terminava tarde, em véspera de dia de escola.

O futebol era diferente e, a mim, dava-me muito mais gozo enquanto adepto.

Ruben disse...

Mas eu nem pedia tanto mediatismo, apenas pedia que fizessem um trabalho de qualidade.

Anónimo disse...

Concordo inteiramente com este artigo do Ruben! Este tipo de "artigos" é que deviam publicar nos jornais! Em relaçao ao programa da jornada...o Ruben disse quase tudo...É MESMO MAU! Trocam tudo, ver os resumos no programa ou ver na net..vai dar ao mesmo...alias..ve se perfeitamente que é uma copia de um programa do genero de algum outro país...as tais manias de copiar so pk é de fora..meu belo Domingo Desportivo..como disse e bem o Simões..cheguei muitas segundas á escola cheio de sono...mas nessa altura valia a pena.. =D

J.ALmeida

PORTIMONENSE SEMPRE disse...

Concordo plenamente contigo assim o futebol portugues não vai a lado nenhum.

Anónimo disse...

P.

Uma vez que também estou em Lisboa, faço meus os teus comentários. Exactamente o que eu penso e sinto.

E também eu sou dessa geração em que a malta ia ver a bola domingo à tarde.
Lembro-me perfeitamente que quando entrava no estádo estava a tocar musica dos Gipsy Kings ou ainda antes disso, corridinhos algarvios e aquele velhote a dar voltas ao estádio. Que saudades...

JC

Bruno disse...

aqui esta uma noticia que é fora do topico,mas que surgiu hoje no jornal referido, no qual equivaleu a muitas mudanças no mundo do futebol,para mim negativas por os clubes e seleccoes e campeonatos nacionais ficarem a perder com esta medida referida

http://www.ojogo.pt/27-81/artigo917868.asp

Anónimo disse...

Concordo com o geral da opinião e dos comentários.
No entanto,não posso deixar de referir que por vezes somos nós próprios (clube) que nos deixamos ficar esquecidos.E Portimão é pioneira nesse sentido.Que promoção faz o clube de si próprio? Podíamos no mínimo ter uma rádio local que desse o relato dos jogos.Temos "um carola" que faz o melhor que pode e sabe mas de sua iniciativa.
Não vale a pena falar nem comparar-nos com os 3 grandes. Eles são um mundo e os outros são outro mundo.
E por muito que se conteste,as transmissões televisivas vieram aproximar as pessoas das equipas,apesar de as tirar dos estádios.
Mas os programas desportivos não são plurais,nem respeitam qualquer igualdade.Para além de serem mal produzidos!
Quanto aos desabafos que li de não quererem tanto mediatismo,não acredito em voces...pois estão a ser contraditórios.Queixam-se de não aparecer e depois dizem que não querem aparecer??
Não vale a pena falar no passado nem nas jornadas ao domingo.Isso nunca mais vai acontecer,até pelo próprio calendário europeu.

Força PSC!!


V.E.

Anónimo disse...

Quando subimos, depois da festa, foi das primeiras coisas que pensei: agora temos que nos habituar a estar numa liga em que só 3 interessam e os outros só lá andam para encher o campeonato.

Em relação aos programas referidos a exaltação dos grandes preocupa-me. Para mim não é só uma questão de gosto por também gostar de ouvir falar do meu clube, é muito pior. Em Portugal rara é a pessoa que não torce por um "grande", mesmo gostando do clube da sua terra. Quando toda a imprensa só dedica atenção só a esses "grandes" será normal que os adeptos passem a acompanhar mais esses clubes e se esqueçam do clube da sua terra. Esse é para mim um dos motivos para que exista cada vez menos adeptos que o seu clube "principal" é o da terra passando a ser toda a gente ou do Benfica, ou Sporting ou Porto.

Já agora pensem numa coisa: se os clubes "pequenos" tiverem cada vez menos força, de onde vão sair jogadores formados para selecção. São os 3 "grandes"? E quem os recruta para as escolinhas para que um "grande" o venha buscar enquanto juvenis? E onde ganham experiência entre os 19 e 23 anos?

Por ultimos gostava de falar das claques que todos tanto criticam (até ai o Freitas Lobo é diferente). Existem jogos em que as claques, mesmo dos grandes fazem coreografias espectaculares, em que no estádio existem um ambiente fantástico de apoio. Nada disso é referido. Se por acaso existe qualquer situação de distúrbio, mesmo sendo só por 2 ou 3 elementos da claque, é logo motivo para a claque ter 15 minutos de antena, sendo logo posta em causa. Talvez seria importante inverter a situação. Isso relembraria alguns adeptos que a sua função é apoiar, e quem sabe até essas situações pudessem diminuir.

Tudo isto funciona numa lógica de mercado, esquecendo-se a comunicação social que também ela influencia a sociedade para além de ser um reflexo da mesma. Por isso é que penso que a Liga deveria tomar medidas, para procura promover todos os clubes, e logo o futebol.

RicardoBarros, BN09

Ruben disse...

Eu realmente referi as discrepâncias no tratamento entre grandes e pequenos, mas nem era por esse caminho que queria ir.

O meu destaque é mesmo a falta de qualidade e a desinformação a que somos todos sujeitos.

Não me importo que os grandes tenham o seu natural maior destaque, desde que respeitem também os outros clubes, dando pelo menos informação acertada e suficiente.

Mas sinceramente, gosto muito mais ouvir falar de futebol, de estatística, de talentos promissores, do que de casos de arbitragem, túneis, corrupção, distúrbios, insultos, que são provocados pelos intervenientes nestes programas/artigos e têm como grandes protagonistas, pessoas que nada têm que ver com o espectáculo do futebol.

Anónimo disse...

De acordo com a totalidade dos comentários, e naturalmente que respeito todas as opiniões.
Por acaso sabem qual é o unico clube em Portugal que tem uma rádio (online) a fazer os seus relatos praticamente em regime de exclusividade? Gostaria que tivessemos um pouco de humildade e dessemos valor à Voz Desportiva, que sem apoios tem marcado presença em todos os jogos do Portimonense e, nalguns em regime de exclusividade.

Lá espero os grandes portimonenses em Coimbra

Saudações

Anónimo disse...

eles benfica sporting e porto deviam só jogar entre os três.
Era o campeonato mais ridiculo do planeta.
Os outros clubes para esta gente é quase como não existem.
Enfim é o pais que temos.

Anónimo disse...

Parece-me uma luta desigual quando clubes pequenos e pobres têm que se degladiar com os três grandes clubes que temos em Portugal.
A sensação que tenho é a mesma que que tem um pai ou uma mãe, quando vê um filho menor a levar pancada dum adulto e de mãos atadas atrás das costas ficar impotente sem nada poder fazer.
Por isso meu amor pelo meu pequeno Portimonense é imenso.
Tem lutado com os grandes e tem correspondido às exigencias dos grandes combatendo, bem sabendo que as armas que tem são inferiores.
No entanto tal como um menino corajoso tem lutado, e está a crescendo, aprendendo e amadurecendo à força das humilhações e privações pelas quais tem passado.
Saudações
FORÇA PORTIMONENSE