Aviso prévio: Antes de mais, é meu dever alertar aos leitores deste blog que o post que se segue consiste apenas em material textual longo sobre assuntos que, não tendo directamente a ver com o Portimonense, podem guiar-nos a conclusões frutíferas. Não se trata, portanto, de material informativo, de lazer ou de importância relevante. Por outras palavras: não leiam que isto pode ser secante e eu não quero que digam que eu não vos avisei!!
O meu amor pelo Portimonense tem-me "forçado" a aprender e a compreender uma série de fenómenos, comportamentos e factores sociais, a fim de ter uma maior consciência sobre qual a realidade e dimensão deste clube. Ter este tipo de conhecimento permite-me sonhar mais e com os pés assentes na terra, ciente da realidade e do que se poderá, ou não, fazer no futuro. Espero que este texto vos seja útil.
O meu amor pelo Portimonense tem-me "forçado" a aprender e a compreender uma série de fenómenos, comportamentos e factores sociais, a fim de ter uma maior consciência sobre qual a realidade e dimensão deste clube. Ter este tipo de conhecimento permite-me sonhar mais e com os pés assentes na terra, ciente da realidade e do que se poderá, ou não, fazer no futuro. Espero que este texto vos seja útil.
- A "comparação" com o Norte
Há anos não me conformava com o facto de haver uma hegemonia futebolística localizada no norte do país. Certamente ainda haverá gente inconformada por isto. Eu não me quis basear em preconceitos ou etnocentrismos, por isso fui procurar saber o porquê deste fenómeno.
Desporto trazido de Inglaterra, o futebol terá chegado a Portugal através dos filhos de burgueses que emigraram para estudar, em finais do século XIX. Quando regressaram a casa (eram na sua maioria oriundos do Porto e de Lisboa), trouxeram bolas de futebol e o ideal de fundar agremiações que o promovessem.
Com um grande número de habitantes nasce um maior número de grupos sociais e o norte tem características geográficas favoráveis à criação de clubes, o que se traduz na realidade de hoje. Só o distrito do Porto tem quase 2 milhões de habitantes, repartidos por 18 municípios. Comparando com o nosso Algarve, somos pouco mais de 400 mil repartidos por 16 municípios. O município mais habitado (Faro) tem cerca de 58 mil habitantes (Portimão conta com cerca de 49 mil no seu município). Só o município de Penafiel (próximo adversário no campeonato do Portimonense) tem cerca de 71 mil habitantes. E os números continuam (claro que se analisarmos cidades em vez de municípios o cenário muda um pouco). Quem conhece ou já visitou o norte sabe que muitas vezes só as tabuletas e os sinais nos dão a indicação de que acaba um lugar e começa outro, seja este um município, uma cidade, uma vila ou uma freguesia. Isto deve-se ao número de habitantes que supõe uma elevada densidade populacional e um desenvolvimento urbanístico igualmente grande.
Todos estes factores fazem com que não haja "terrinha" do norte que não tenha massa adepta suficiente para levar avante um projecto futebolístico ambicioso. Se aliarmos estes a factores de uma gestão razoável, o resultado é vermos clubes como o Paços de Ferreira (sede de município com cerca de 56000 habitantes e cidade com apenas 6000 [Alvor tem quase 5000]) disputando lugares cimeiros da Primeira Liga e Freamunde, freguesia(!) desse concelho (cerca de 7000 habitantes) a lutar pela subida na Liga de Honra. Se reportássemos este fenómeno para o Algarve, e mais precisamente para Portimão, seria como ter o Portimonense na Primeira Liga a lutar pela Europa e o Alvorense na Liga de Honra, sustentadamente.
Li, mas não investiguei muito, sobre o facto (ou a hipótese) de os empresários do norte serem mais empreendedores e apoiarem (patrocinarem) de uma forma mais activa os clubes da sua terra, criando mais condições para o sucesso dos mesmos. Isto pode ser mito, mas não deixa de ser verdade que, havendo mais habitantes, há mais empresas e empresários.
- A dimensão de um clube
Este ponto vem da vontade que tenho em ver o nosso Portimonense um clube maior, com mais gente afecta e capacidade de motivar ainda mais. Um clube de primeira, seja em que divisão for.
Isto não acrescenta muito à opinião comum da maior parte das pessoas. É um facto: a dimensão de um clube é tanto maior quanto a sua massa adepta (potenciais sócios pagantes), mais condições tem o clube de vingar. Qualquer clube (ou grupo social) tem como principal objectivo o crescimento de forma sustentada: o Portimonense quer (e precisa de) cada vez mais adeptos e sócios, mas este número oscila em dois principais vectores: dimensão (em termos de habitantes) da terra mãe do clube, a que podemos chamar de público-alvo, e prestígio do clube, que aumenta ou não conforme os seus sucessos.
A empatia ou a tradição já não é, infelizmente, um factor preponderante para a afecção a um clube. Num mundo cada vez mais globalizado e uniforme, as gentes procuram a sua identidade buscando a diferença entre os outros e identificam-se com ideais comuns àqueles que lhes são próximos. Segundo estudos etnológicos, a tendência social prevê um crescente maior interesse sobre aquilo que é da terra, tradicional e genuíno como as origens. Mas se o clube da terra não for suficientemente bem sucedido e de mentalidade ganhadora, os resultados mais prováveis serão ou a procura por outros clubes que satisfaçam essa necessidade (de sucesso e vitória sobre os outros) inerente à raça humana (o que fez com que em Portugal 3 clubes de futebol registassem grande crescimento neste último século), ou o afastamento total ou parcial do futebol.
No que toca à angariação de novos sócios, adeptos ou simples simpatizantes, o que aconteceu nos últimos anos em Olhão, goste-se ou não, é exemplo para nós, que vivemos uma realidade social e geográfica semelhante.
E porque não me quero alongar mais no meu discurso, termino, apelando a todos aqueles que partilham comigo esta paixão, este amor, chamado Portimonense Sporting Clube que se manifestem activamente em prol desta instituição, indo ao estádio e motivando outros a ir, que opinem, que denunciem, que critiquem, que louvem, que sejam adeptos verdadeiros e activos e que, quando nos assolarem dias de menos sucesso ou mais pachorrentos, pensem que sem nós este clube não tem razão de existir, nós somos o Portimonense!!
Vivó P'tim'nense!!
13 comentários:
Excelente blog. Conhecianos apenas o Blog do Portimonense, mas este não fica nada atrás.
Parabens!!
Saudações freamundenses!
www.freamundeallez.blogspot.com
Excelente trabalho Dário !
Alias , tais como os do teu blog.
Os meus parabens, e fico à espera de mais.
Força Portimonense !!!
Ass.Miguel Romanzeiras
Em relação a este post, o que é aqui descrito é uma realidade, de facto existem muitos mais clubes bem sucedidos no norte (distritos do Porto e Braga principalmente), do que no sul. Mas a explicação população não explica tudo, penso que aqui existe muito mais paixão e essencialmente bairrismo, e o gosto pela nossa terra, seja ela cidade, localidade ou aldeia.
O distrito de Lisboa, é bastante mais habitado e rico e não tem tantos clubes nos campeonatos profissionais, nem com prespectivas de lá chegarem. Além disso se repararmos nas médias de assistencia, verificamos que as do sul são substancialmente mais baixas (excluindo os 2 grandes de lisboa).
A regiao onde Freamunde se situa tem imensos bons clubes a pouquissimos kms, e são oriundos de cidades muito proximas mas quase todas de pequena dimensão: Paços de Ferreira (dista 3kms, ILiga),
Guimarães (20kms, ILiga),
Penafiel (12Kms, IIliga),
Aves (12Kms, IIliga),Trofense (23Kms, IIliga),
Vizela (10kms,aposta na subida), Moreirense (11kms,aposta na subida), para não falar nos clubes do porto, que ficam a apenas 30kms!!
Podem dizer: OK, mas aí há muita população. Sim, mas existem muitas terras, e por exemplo, os adeptos do Freamunde, são de Freamunde quase todos, nao são de Paços, nem de Penafiel, nem de Lousada, Paredes ou Sto Tirso(distam todos 8-9kms), porque eles lá têm os seus clubes, que também são bons, jogam na 2ª divisão!
Freamunde tem actualmente cerca de 7500 habitantes, tem tido nos ultimos anos uma média de assistencias aos jogos de 1000-1100 espectadores, ou seja, uma média de 15% da população vai sempre à bola em Freamunde, se as restantes cidades do país fizessem o mesmo, certamente os estadios estariam quase sempre cheios aos Domingos, e o Freamunde com certeza nao conseguiria bater-se com os clubes dessas cidades e provavelmente disputaria a 3ª divisão ou coisa parecida! Por exemplo a Academica teria 15-20 mil nos jogos, o Leiria 15 mil, o Beira-Mar 12-15 mil, o Setubal igual, o Portimonense e o Varzim 6 ou 7 mil, etc etc!!
Fico triste por ver cidades de dimensao bem razoavel, capitais de regioes a terem clubes nas 3ª divisoes, tipo Evora, Castelo Branco, Portalegre, Viseu, Beja, Guarda!! E podem voltar a dizer que são regioes mais pobres, e eu digo: OK, mas vai-se contar o numero de sócios desses clubes e ve-se que alguns nem 1000 têm!!!! Mas provavelmente sao socios de um dos 3 estarolas (grandes) e de vez em qd vão em excursão ao estadio da luz ou alvalade e gastam a massa na mesma!! O Freamunde tem 2000 socios em 7500 habitantes!!! Claro que um clube assim,de uma cidade grande mas que nem apoio dos habitantes tem não pode ir longe!!!
Saudações freamundenses!!
Subscrevo tudo o que foi escrito em cima! excelente post! boa visao do blog do Freamunde tambem! Se todas a pessoas pensasem assim poderiamos evoluir muito! Esta "msg" devia passar por muita gente!
Força Portimonense!
AL_meida BN*09
Assim ...sim !!!!
Vale a pena vir a este blog.
RESPEITO, PONDERAÇÃO E CULTURA.
Um grande abraço e muito sucesso nesta caminhada de apoio ao nosso Portimonense.
Está bem visto, freamundense!! Gostei do comentário.
Realmente trouxeste outra luz a este post: ajuda o facto de conheceres e conviveres de perto com essa realidade específica. Sinceramente não conheço muito essa região, mas não sou da opinião que o público aí em cima vive o futebol com mais paixão do que aqui em baixo.
As "terras" do norte viram durante os finais do último século grandes percentagens da sua população original partir para a emigração, em números muito, mas muito maiores do que os de cá de baixo, que acabaram por se fixar devido ao trabalho proporcionado pela construção civil e turismo. São os sectores, de resto, que movem mais emprego/trabalho por cá.
Com a emigração vem o regresso, sempre sonhado. A perspectiva de quem emigrou, e quem já emigrou sabe disso, desenvolve um carinho e um amor especial pela sua terra natal. O momento do regresso às origens e àquilo que lhe deu outrora a identidade é algo muito significativo para aquilo que estamos aqui a discutir. Quem regressa volta à sua terrinha, volta a provar os sabores da sua região e volta a ver jogar o seu clube de futebol. Não existe, portanto, maior paixão, ou, a existir, é fruto de um fenómeno que ocorreu com muito mais fulgor no norte do que no sul. É o que defende a Etnologia portuguesa.
Ourta coisa que acontece cá no sul, nas cidades de cá é, como o clube da sua terra não é muito bem sucedido e participar em divisões menos carismáticas, tendem a torcer pelo clube que reune essas condições e está geograficamente mais próximo. Acontece com muita gente de Lagos que torce pelo Portimonense.
O Algarve também só tem 3 grandes clubes "históricos" nos seus sucessos e adeptos: Portimonense, Farense e Olhanense, pelo que a paixão pelo futebol local fica assim "tripartida" essencialmente por estes, havendo, claro, muita gente que torça pelos seus pequenos clubes de terrinha.
Gostava de dar os meus parabéns ao Dário por este excelente post.
Será que nunca te passou pela cabeça escrever a um nível mais profissional?
Ganhaste pelo menos mais um fan, o que já não é nada mau lol
Guetov, obrigado!!
Confesso que tenho um gosto muito especial pela escrita, em particular pela poesia (em 2007 publiquei um livro com o apoio da CMLagoa); mas escrever mais profissional é algo que depende de eventuais oportunidades. Além do mais, creio que ainda tenho um longo caminho a percorrer na escrita, muitas dúvidas gramaticais a tirar e um estilo por amadurecer, no entanto, creio que o curso onde estou (Ciências Documentais e Editoriais, na UAlg) me tem ajudado a melhorar (através de cadeiras como Revisão Textual, Oficina de Gramática e Estilística do Português, Crítica Textual, etc.).
Pois, a realidade do Distrito de Lisboa e de Setúbal demonstra muito bem a diferença entre o sul e o norte!
Lisboa = local de trabalho
Suburbios (Linha de Sintra, Cascais e Margem Sul) = dormitórios da capital!
Ou seja, as pessoas não se identificam minimamente com a localidade onde vivem e, claro está, muito menos com os clubes locais!!
Um caso disso é o E. Amadora, que estando numa cidade com 160 mil habitantes, não consegue motivar as pessoas a deslocarem-se ao estádio!!! As pessoas não se identificam!!
Talvez o unico clube que seja diferente dos restantes (sem contar com o SLB, SCP e Belenenses) é o Vitória de Setúbal, que até tem uma excelente massa associativa.
Agora, cidades como Almada (concelho com 240 mil habitantes), Seixal (160 mil habitantes), Sintra (500 mil habitantes), Loures, etc... não conseguem cativar as pessoas das suas cidades a virarem-se para o futebol local!
Dário;
Gostava de trocar umas palavras contigo da próxima vez que for a Portimão.
Não para falar de futebol nem do Portimonense, mas sobre outros assuntos.
José Luís Peixoto diz-te alguma coisa?
Guetov,
Diz-me, mas não me interesso muito pelos contemporâneos, apesar de os valorizar... Os clássicos são mais a minha praça...=P Falaremos depois, então.
Cumprimentos.
Lanço mais uma questão para esta discussão: a parte financeira.
O Algarve até é uma das zonas do país a gerar mais dinheiro à custa do Turismo, inclusivamente numa época de crise. O problema é que esse dinheiro não enrique a nossa região uma vez que pouco cá fica.
Estando o futebol directamente ligado a investimentos e patrocínios, acho perfeitamente normal que esta conjuntura não favoreça os clubes Algarvios em comparação os do Norte, zona onde a implantação da Indústria está enraizada, funcionando esta 11 meses por ano...ao contrário do nosso Turismo de massas.
Assim, temos 3 clubes por quem se divide o pouco que por cá fica disponível. E outros clubes que bem tentam entrar nesse grupo mas a quem falta capacidade para dar um passo em frente por forma a que a distribuição das equipas seja equiparada à que mencionam na zona norte, ou seja, com maior concentração de equipas mais fortes.
Contudo, se recuarmos uns 25 anos, ainda encontraremos um Algarve muito bem representado nos campeonatos nacionais. Esperança de Lagos, Torralta e Silves andaram bastante tempo pela 2ª divisão e obtiveram boas classificações. Lusitano de VRSA também chegou a jogar na Liga de Honra, tal como Louletano. Isto sem esquecer o Olhanense, o Farense e o Portimonense que, de uma forma mais geral e sustentada, sempre foram os clubes mais representativos da região.
Cumps
"Contudo, se recuarmos uns 25 anos, ainda encontraremos um Algarve muito bem representado nos campeonatos nacionais. Esperança de Lagos, Torralta e Silves andaram bastante tempo pela 2ª divisão e obtiveram boas classificações. Lusitano de VRSA também chegou a jogar na Liga de Honra, tal como Louletano. Isto sem esquecer o Olhanense, o Farense e o Portimonense que, de uma forma mais geral e sustentada, sempre foram os clubes mais representativos da região."
Curiosamente, uma altura em que o dinheiro das pescas e das indústrias ainda abundava no Algarve...
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