Antes de mais, peço desculpa pela extensão deste texto. Fi-lo de cabeça quente e quando assim é, as palavras costumam fluir. Relembro-vos, contudo, que podem sempre não o ler.
Não escondo que estes dias o sentimento de felicidade tem tomado conta de mim. Penso no Portimonense e é-me difícil esconder o sorriso. Sei tão bem quanto todos aqueles que, ao longo de toda esta época estiveram lá, no estádio (nos estádios, pois também fui, e fomos algumas vezes fora), que a missão foi cumprida. O nosso apoio surgiu, fez-se ouvir, sentiu-se nos adeptos, nos jogadores – acima de tudo – e o reflexo, mais do que um reflexo, um resultado, está aí: subimos de divisão.
Tenho 20 anos. Nasci e meses depois o clube da minha terra descia para a Liga de Honra, numa ‘travessia no deserto’ que durou até sábado passado. Estou hoje em condições de vos confessar que em miúdo (sei que ainda o sou, em muitos aspectos), fruto de influências familiares e de uma rede de comunicação social longe de ser imparcial, torcia e vibrava pelo Benfica. Tal como àqueles que me serviram de influência, vibrava com as vitórias, entristecia com as derrotas e, pior do que isso, desejava o insucesso dos rivais Sporting e Porto, como qualquer benfiquista ‘digno desse nome’ o faz.
Fui crescendo, tomando consciência daquilo que à minha volta se assumia como ‘a vida’. À medida que vamos crescendo, os nossos olhos vão deixando de ver apenas aquilo que está à nossa frente. Não foi um processo rápido, mas com o passar dos anos fui percebendo que não fazia sentido nenhum, lógica racional absolutamente nenhuma, para um algarvio, como eu sou, e cheio de orgulho em sê-lo, torcer e vibrar, oferecer as suas emoções a um clube que nunca tinha visto jogar no estádio, que joga a 300 quilómetros da minha terra, que nunca me deu nada além de meras alegrias e tristezas… Creio ter-me tornado num ‘homem feito’ quando o Benfica deixou de me representar dentro das quatro linhas.
Paralelamente, neste processo de crescimento, o futebol teve sempre um lugar de destaque na minha vida: aos domingos à tarde, duas vezes por mês, quando comecei a acompanhar o meu pai ao então Estádio do Portimonense Sporting Clube, numa humilde II Divisão B.
A vitória deste campeonato nacional de futebol por parte do Benfica diz-me, portanto, menos do que dizia há uns anos atrás (como em 2004/2005, por exemplo). Sei admitir que foi um título bem atribuído, merecido pela extraordinária equipa que o Benfica apresentou esta época, mas hoje, apenas isso consigo fazer. Talvez seja por isso que me dói particularmente olhar para a minha/nossa cidade vestida de vermelho e branco, ao rubro, depois de ter acontecido o que aconteceu no sábado pouco depois das 19 horas.
A festa que comemorámos na madrugada de domingo foi a festa da subida e dela fazem parte, APENAS aqueles que disseram ‘presente’ durante a caminhada. Meus amigos, a caminhada não se faz apenas no sprint final. Das centenas de pessoas que apareceram nos Paços do Concelho para receberem os jogadores, quantas foram ao estádio esta época, pelo menos uma vez? Quantas sabiam os nomes dos nossos jogadores, os verdadeiros heróis? Quantas acreditaram que era, de facto, possível voltar a colocar a cidade do Arade na ribalta do futebol? Onde estavam todas essas pessoas quando o clube mais precisou? O Portimonense quer ou precisa de adeptos assim? Creio que não terá sido a chuva nem as horas tardias em que a festa aconteceu que terão afastado os milhares a mais que, a estas horas, ainda festejam pela cidade.
Não escondo a tristeza que sinto ao deparar-me com uma cidade que festeja mais efusivamente um campeonato do Benfica do que uma subida de divisão do “seu” clube. Quantos portimonenses saberão que dentro das quatro linhas é o Portimonense Sporting Clube que os representa, a si, aos seus antepassados e às suas origens, e não o Benfica, ou outro clube qualquer?
Ainda assim, mantenho o sonho de um dia ver uma Portimão portimonense, em vez de lisboeta, portuense ou inglesa… Sim, eu sei que sou um homem de sonhos e de utopias, mas reparem: um dos meus sonhos foi concretizado no sábado passado. O que custa sonhar mais um pouco?
14 comentários:
Este teu post veio de encontro a uma troca de palavras que hoje tive com alguém.
Hoje após a vitoria do Benfica eu vi muito vermelho na cidade de Portimão, e também muito vermelho numa mão e preto e branco na outra.
Agora eu pergunto:
No dia em que o Portimonense tiver que se defrontar com o Benfica de que lado vai ficar o coração???.
Penso que será um terrível dilema para resolver para muita gente.
Meu coração não balança.
EU SOU PORTIMONENSE
complicado. é difícil mandar no coração das pessoas :)
eu nao tenho duvidas o meu é PORTIMONENSE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1
Tenho que concordar com muitas coisas escritas neste artigo.
Quando cheguei de Oliveira de Azemeis e vi aquela gente toda em frente à Camara Municipal tive exactamente a mesma opinião que tu...
Onde é que eles tiveram esta epoca toda!
Dario, não podia estar mais de acordo. Veja-se o exemplo das equipas inglesas onde os adeptos apoiam a equipa da terra incondicionalmente.
Admito ter uma simpatia pelos leões mas o meu coração nunca esteve e nunca estará dividido.
Força Portimonense !!
Dário, gostei muito do teu artigo de opinião, pois reflecte tudo aquilo que sinto (há bem mais de 20 anos), sobre a realidade do futebol/desporto português.
Nutrir uma certa simpatia por um dos “grandes” é perfeitamente normal, pois todos gostamos de desfrutar sensações de vitória, agora “sentir” as vitórias ou derrotas desses clubes, aos quais, normalmente, não existe qualquer ligação, quer desportiva, quer domiciliária, de uma forma inflamada e muitas vezes a roçar o ridículo é uma atitude completamente imbecil.
Peço a todos que façam uma introspecção sobre o porquê de serem deste ou daquele clube “grande”, e verão que não têm argumentos válidos para sê-lo. Não se esqueçam que a estupidez não é um argumento.
Eu nasci em Faro, cedo fui morar para Portimão, onde cresci e me fiz homem, e embora tenha saído dai para morar, inicialmente na cidade que me viu nascer e actualmente em Olhão, não posso deixar de ser Portimonense, pois foi lá que evolui como atleta, foi lá que senti o pulsar do clube, foi lá que discordei muitas vezes das decisões do clube, era para lá que eu sonhei que os meus filhos um dia iriam, era para lá…! Por tudo isto só posso sentir-me Portimonense.
Eu ainda sonho mais do tu… sonho ver uma Portimão portimonense, sonho ver uma Olhão olhanense, sonho ver a impressa a dar o mesmo destaque a todos os clubes, a todas as modalidades… porque enquanto isso não acontecer, o desporto em Portugal será “só” futebol para 3 clubes.
Portanto, e mais uma vez “… deixem-me sonhar!” porque “o sonho comanda a vida…”
Hernâni Nascimento
Bom artigo!
Sou da mesma opinião, pois, quando somos miúdos, somos daquele clube que os nossos familiares mais chegados são, que, no meu caso, são leões. Mas, quando comecei a "pensar por mim", e porque sou da região de Coimbra, não percebi porque é que tinha de ser de um clube que só via pela tv. Não. Por volta dos 10, 11 anos, tornei-me adepto 100% da Académica, pois, para além de ser o clube representante da cidade, era também aquele clube que tinha oportunidade de ver, não só na tv, mas também ao vivo, no Cidade de Coimbra. Só tenho pena é de ainda não ter sido (ainda) sócio...
Na parte da imprensa, penso que, enquanto os jornais dispuserem de praticamente metade das suas páginas para falarem dos "grandes", apenas uns "quadraditos" para falar dos outros clubes da 1ª, uns "espacitos" para falarem das modalidades, o desporto nacional vai-se confinar à luta super gasta dos 3 grandes, deixando os outros sem espaço de antena...
Até que qualquer dia, os outros 13 clubes da 1ª Liga se fartem de vez, e deixem a luta pelos 3, o que era interessante, uma edição da Liga Sagres apenas com a participação dos 3 supostos grandes, pois é isso que faz tranparecer quando abrimos um jornal ou ligamos uma tv, parece que em Portugal existem apenas 3 clubes a actuar na 1ª Liga, os restantes clubes só são lembrados pela comunicação social, quando jogam com os tais grandes.
É esta mentalidade que todos nós, adeptos de "não-grandes" temos de contrariar.
Parbéns pela subida, PSC.
Gostei muito de ler o teu Post. Sou sócio do Benfica e do Portimonense..Sonhava com esta subida desde pequenino..aprendi a ver futebol no Estádio do Portimonense seja ao lado dos sócios mais antigos, bravos nos apupos aos arbitros ou a cantar com os marafados..aprendi também a admirar a grandeza do Benfica e a sofrer com ele todos os domingos. Agora moro em Lisboa..Tive em Oliveira, tive nos Paços do Concelho na Festa, Tive no Estadio da Luz e acabei este fim de semana com um cachecol do benfica enlaçado no do portimonense a cantar pelo PSC em pleno marquez com mais 15 portimonenses..Grande fim de semana..Mas digo a todos os Portimonenses..para deixarem os clubismos à distancia quando o Portimonense tiver em campo.. vou ficar triste se pessoal de portimão for para o estadio apoiar qualquer um dos grandes..Esses nao merecem a agua que bebem
Até há meia dúzia de anos ainda simpatizei com o Benfica, embora nunca tivesse sido sócio de outro clube que não o Portimonense.
Até ter percebido que, mesmo em Lisboa, o Benfica nunca me deu nada. Não existe relacionamento com as pessoas (só distanciamento) nem tão pouco raízes que justificassem o que quer que seja para entregar tempo a um clube, apenas "por arrasto"...
Sem dúvida que todas as opiniões que li até agora são dos verdadeiros amantes do Portimonense.
Não digo que tenho um fraquito pelo Benfica a nível Nacional. Grande clube por onde passaram grandes jogadores. O nosso amado EUSÉBIO que representava a nossa bandeira pelo mundo fora tal como a D. Amália.
Falava-se na altura também do grande Belenenses e meu pai que foi treinador por este país fora era Belenenses de coração o que não era suposto.
Vejam o TOY MARAFADO de Setúbal mas ama o Portimonense. O nosso grande/pequeno clube.
O coração tem razões que a propria razão desconhece.
Mas entre apoiar os grandes que arrastam grandes massas associativas, que movem grandes riquezas e grandes apoios. Entre esses que não são palpáveis, cujas figuras se nos escapam, as quais nem sequer conseguimos vislumbrar e muito menos atingir...então meus queridos amigos e adeptos venha quem vier a família Portimonense tem que estar unida num só coração no formato do nosso grande, lindo e amado clube, O GRANDE PORTIMONENS.
Excelente artigo, devia sair naqueles jornais desportivos, a ver se algumas pessoas ( não só de Portimão) abrem os olhos.
A integração e interacção do clube com os locais é tão ou mais importante que as vitórias do mesmo, por exemplo ao torcermos pelo nosso Portimonense, em vez de um dos 3 grandes, estamos a formar uma identidade e uma ligação afectiva com o clube logo com a cidade em si. Esta integração combate o alienamento crescente que se vive hoje em dia e promove uma atitude mais pró-activa em relação aos acontecimentos na cidade, ou seja, tornamo-nos melhores cidadãos.
Conclusão: Toca a apoiar o nosso Portimonense em detrimento desses 3 macrocéfalos!
Luis.
Eu tal como vocês tenho um amor pelo Portimonense e simpatizo por um dos 3 grandes, mas vão ver que quando o Benfica jogar cá a bancada dos sócios vibra é com os golos do Benfica. Sempre aconteceu nos anos 80 quando eu ia ver os jogos e deixava-me um profundo desgosto. Eu simpatizo com o Sporting e uma das melhores vitórias do Portimonense foi o 3-1 ao Sporting com golos do Vado e do Zé pedro e acreditem que eu vibrei como nunca e nem por um instante torci pelo Sporting. A grande dúvida é se faltasse um ponto para o PSC se safar da despromoção e 3 para o Benfica ser campeão por quem torcia a bancada de sócios do PSC.
acho que ha quase tantos lagartos como lampioes em portimao.. sao é poucas as vezes que os vemos
É bom saber que ainda existem pessoas como o Dário, gente que tem orgulho das suas raizes,cidade,clube... é tão mais fácil seguir o rebanho e torcer por um grande, dificil mesmo é apoiar incondicionalmente uma equipa que 70% das vezes perde, que o avançado na tem uma, mas duas pernas de pau e o guarda-redes trabalha no frango da guia em part-time, no entanto quantos poderão descrever a felicidade imensa que é quando o nosso clube contra todas as probabilidades passa a perna á logica e vence...
Devo dizer que tambem eu sofri de clubite até ao dia que vi o meu clube pela primeira vez, o jogo era para a uefa e esses dias parecem tão longinquos, no entanto o que senti premanece até hoje, teria sido tão mais facil voltar ao rebanho... ou talvez não! aqueles que apoiam verdadeiramente o clube da "nossa" cidade sabem que não! há sentimentos que nenhum grande, de cidades que não me dizem nada, poderão alguma vez me transmitir.
Parabéns ao Portimonense e um abraço aos verdadeiros adeptos
Ps. aí!! eu sou do portimonense mas também festejo com um cachecol do benfica na outra mão! esses na contam como verdadeiros!
um Homem! uma familia! uma cidade! UM clube!!!
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